domingo, 10 de agosto de 2008

My old Posting

[Uma palavra a mais mata qualquer história]
"Pára de escrever só quando souberes como continua a história. Lembra-te de que podem escrever-se excelentes romances com palavras de vinte dólares, mas o mérito está em escrevê-los com palavras de vinte centavos. Nunca te esqueças de que o teu ofício é apenas uma parte do teu destino. Uma risca a menos não altera a pele do tigre, mas uma palavra a mais mata qualquer história. A tristeza resolve-se no bar, nunca na literatura".
Ernest Hemingway, citado por Luis Sepúlveda, em As Rosas de Atacama.

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[Ego]
O que me falta em dinheiro, sobra-me em talento.

My old Posting

[Confissão]
Não sou cruel. Sou eu.

My old Posting

[palavras que te digo]
Por ti, espero a vida inteira. Mas não venhas depois das 9.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Hoje fui para o céu


Antony and the Johnsons - Cripple and the Starfish

terça-feira, 1 de julho de 2008

Avançado

[post de 24 de Março de 2004]

Venho com ela nas mãos, em passos lentos, parado no tempo. Dou-lhe carinho, esfrego na camisola, faço-a girar entre os braços num ritmo descendente. Quando toca no chão, já sabe que lhe vou bater, ao de leve, ou com força.
Olha para mim, vê-me a afastar, em passos lentos, parado no tempo.
E agora que estamos frente a frente, já me viu assim, nervoso e decidido, já me viu com o mesmo jeito antes da euforia ou da frustração: entre as duas, decido com ela, à minha responsabilidade. Fecha os olhos ao ver-me partir, imagina-me alegre ou triste, vá para rede ou para a bancada... Cerra o semblante quando o pé lhe acerta um murro no estômago. Amparada pela malha amparou-me a dor.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ontem foi há dois anos

Estivemos 45 dias na Alemanha. Hoje, olhando para trás, ainda parece que foi ontem. Mas não. Já foi há dois anos. Lá, tinha saudades disto aqui. Aqui, tenho dias em que sinto falta daquilo por lá. Em algumas manhãs consigo ter vontade de fechar os olhos... Consigo respirar a luz fresca dos minutos ao pequeno almoço...


















Em boa parte do tempo acordavamos com isto: o silêncio do jardim do hotel Applebaum. Recordo-o com frequência, talvez não com a frequência devida, pela paz que até mesmo uma única imagem transmite, mas recordo-o volta e meia. Aqui alimentavamos o corpo a seguir a curtas horas de sono. Aqui antecediamos longas e intermináveis - pelo menos pareciam; e eram - horas de trabalho. Entre a escolha do pão, dos queijos, da manteiga, do café, até à fruta e aos iogurtes, se passava em revista boa parte do dia anterior e se começava a viver o presente e o futuro próximo. Umas vezes eram os golos ou as defesas, os falhanços à boca da baliza. Noutras eram os pormenores de uma transmissão ou a promessa de uma boa história para seguir de perto. Poucas coisas nos aborreciam tanto como o apagão de Pauleta e a insistência de Scolari num homem a quem a sorte teimava em voltar as costas.
Terminavamos o pequeno almoço com sorrisos de quem está prestes a fazer, ou já fez, alguma partida a um colega de trabalho. Acabava sempre este momento com um sumo de laranja. Depois "comia" asfalto de um país inteiro. Contava histórias. Corria vidas. E voltava sempre para dormir um sono em excesso de velocidade. Ontem já foi há dois anos. Cada vez mais percebo porquê. Não consigo parar de viver depressa.

Boxeur

[continuação]

Enquanto vai ocupando os armários da kitchnet, mói para dentro que a comida satisfaz o corpo, mas pode estragar o espírito. Fica a matutar naquilo e chega depressa a uma conclusão. A comida estraga qualquer projecto de literatura. Nenhuma frase fica bem com cebolas e alhos pelo meio, nem mesmo para encher chouriços. Tira um bloco azul, muito pequeno, do bolso de trás das calças e anota: “a comida estraga qualquer projecto ou ideia de literatura. Não escrever nunca sobre alimentos”. Acabou a tarefa fechou o armário e foi fumar lá para fora, decidido e sorridente com aquela inesperada preocupação de não engordar os leitores. Quando regressou já era noite. Vinha esbaforido, num passo atrapalhado, a transpirar mais do que a idade permitia. Vinha com pressa de contar à máquina de escrever o final de tarde do primeiro dia. Tropeçou na caixa dos garrafões de água

[continua]

Boxeur

[continuação]

A praia da mais do que provável última morada é o abandono em pessoa. Tem um sítio estreito para dormir ao qual não nos atrevemos a chamar quarto. Nesse espaço cabe meia cama de solteiro, que ele ocupa com uma chaise long, e de tão estreita ser, a parede deu quase a totalidade do corpo a uma janela em forma de porta. A sala é sala e cozinha ao mesmo tempo. Com o avançar dos dias vai ser sala, cozinha e quarto. Lá mais para a frente vai ser tudo. Vai ser o mundo inteiro de um homem, até ele se apercerber que afinal, tudo, pode ser nada.A porta da frente dá para a rua, se quisermos chamar rua a um caminho de terra com marcas de rodado nos limites laterais e erva densa pelo meio. A estrada principal mais próxima fica a 50 minutos a pé bem contados. A porta de trás abre a casa à areia da praia e deixa o mar, recortado, em fundo.Toda a comida dispensa frigorífico. Três postas de bacalhau, o resto de uma garrafa de azeite, uma de vinagre. Um quilo de batatas, quatro cebolas e outros tantos alhos. Sal. Uma lata de feijão vermelho cozido, pacotes de batata frita. Sete garrafas de vinho e duas de whisky. Três broas de milho.

[continua]

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Boxeur

Esta é a casa de um lutador. Um homem versátil. Estas paredes são as cordas do ringue ou as cortinas de uma boca de cena. Aqui existe uma luta de vida ou morte entre um homem e a incapacidade de escrever. Ele está no último degrau da normalidade. Está disposto – disposto não, está muito mais do que isso – está determinado a deixar a própria vida nas mãos da escrita. Refugiou-se aqui com a obsessão de colocar palavras no papel. Veio para escrever com luvas de boxe ou sapatilhas de ballet. Trouxe água para vinte dias e alimentos para uma única semana. Antes de se mudar para cá mandou cortar a luz e fez o mesmo com a água da companhia. Não há gás, televisão ou internet nesta casa. Nem telefone ou telemóvel. Ele veio para desenterrar todas as letras daquele corpo delgado. Sabe que na pior das hipóteses, se tudo correr mal, se for incapaz de sair vencedor, terá de ironizar com a situação. Terá de usar o sarcasmo em si próprio e, antes do último sopro, deve deixar numa folha, a título quase póstumo, a inscrição aqui jaz um falhado.

[continua]

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Saudade

Existimos para sempre num beijo. Numa fotografia ou numa música. No coração um do outro. Ou então juntos. Eu quero.

Cat Power - The Greatest

Que alguém tome conta de mim quando eu morrer




Antony and the Johnsons - Hope there´s someone

My Blueberry Night

A baixa da cidade rejuvenesceu primeiro e embriagou-se logo a seguir. Fecharam ruas, cresceram carros noutras, e nas encerradas, houve a cor dos cursos e canções imberbes. Os livros ficaram em casa, não fazem falta, porque afinal, durante esta tarde, não se aprende nada. É assim em todo e qualquer cortejo dos estudantes.
À noite, no lado oriental da cidade, temos paz. E porque sobra espaço sem pessoas, um homem e uma mulher vão para lá esconder o pecado, o amor, a paixão, o sexo só deles como mais ninguém tem, o que queiras, como queiras.
A sala onde vai ser projectado o filme é quase e só deles. Chegam lá com um sorriso. No caminho cruzaram-se com grupos curtos e dispersos de estudantes. Conversaram:
ela - como eu queira poder voltar ao tempo da faculdade...
ele - que curso é que tiravas desta vez?
ela - não sei... tirava o que me fizesse ganhar dinheiro!
ele - então tiravas as cuecas!

Ainda sorriam quando compravam os bilhetes para ver MyBlueBerryNights. O filme é um bom disco. Tem boas músicas e uma música excelente, a deles: The Greatest, de Cat Power. De resto o filme é uma história mediana, escrita de forma sofrível, editado de forma previsível, arrastado. O filme é um bom disco com actores talentosos. Ponto.
Na sala onde o viram, há um pecado capital chamado intervalo. Aguardaram em silêncio pelo recomeço. No fim decidiram fazer uma pausa no amor. Foi cada um à sua vida. Ele levava lágrimas, não de dor, mas de compreensão. Ela saiu no papel da mais confusa das mulheres.