
Em boa parte do tempo acordavamos com isto: o silêncio do jardim do hotel Applebaum. Recordo-o com frequência, talvez não com a frequência devida, pela paz que até mesmo uma única imagem transmite, mas recordo-o volta e meia. Aqui alimentavamos o corpo a seguir a curtas horas de sono. Aqui antecediamos longas e intermináveis - pelo menos pareciam; e eram - horas de trabalho. Entre a escolha do pão, dos queijos, da manteiga, do café, até à fruta e aos iogurtes, se passava em revista boa parte do dia anterior e se começava a viver o presente e o futuro próximo. Umas vezes eram os golos ou as defesas, os falhanços à boca da baliza. Noutras eram os pormenores de uma transmissão ou a promessa de uma boa história para seguir de perto. Poucas coisas nos aborreciam tanto como o apagão de Pauleta e a insistência de Scolari num homem a quem a sorte teimava em voltar as costas.
Terminavamos o pequeno almoço com sorrisos de quem está prestes a fazer, ou já fez, alguma partida a um colega de trabalho. Acabava sempre este momento com um sumo de laranja. Depois "comia" asfalto de um país inteiro. Contava histórias. Corria vidas. E voltava sempre para dormir um sono em excesso de velocidade. Ontem já foi há dois anos. Cada vez mais percebo porquê. Não consigo parar de viver depressa.
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