quarta-feira, 25 de junho de 2008

Boxeur

[continuação]

Enquanto vai ocupando os armários da kitchnet, mói para dentro que a comida satisfaz o corpo, mas pode estragar o espírito. Fica a matutar naquilo e chega depressa a uma conclusão. A comida estraga qualquer projecto de literatura. Nenhuma frase fica bem com cebolas e alhos pelo meio, nem mesmo para encher chouriços. Tira um bloco azul, muito pequeno, do bolso de trás das calças e anota: “a comida estraga qualquer projecto ou ideia de literatura. Não escrever nunca sobre alimentos”. Acabou a tarefa fechou o armário e foi fumar lá para fora, decidido e sorridente com aquela inesperada preocupação de não engordar os leitores. Quando regressou já era noite. Vinha esbaforido, num passo atrapalhado, a transpirar mais do que a idade permitia. Vinha com pressa de contar à máquina de escrever o final de tarde do primeiro dia. Tropeçou na caixa dos garrafões de água

[continua]

Sem comentários: